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A Revolta das Bolsas - Por Maria Terezinha Melo
A Revolta das Bolsas - Por Maria Terezinha Melo 06/02/2019

             Eu estava deitada em minha cama de quarentena, por causa de uma cirurgia nas pernas, e de repente a porta do closet abriu de uma vez, fazendo um grande barulho.

             Sentei assustada na cama, a tempo de vê-las entrando no quarto com cartazes nas alças e empurrando umas às outras. Eram minhas bolsas fazendo uma pequena (pelo tamanho delas) manifestação.

               À primeira vista não acreditei no que vi. Ainda atordoada me ajeitei no encosto da cama e passei a encará-las.

             Elas foram saindo do armário e se acomodando ao redor da cama. Ao meu redor pude identificar cada uma delas: a de animal print, a de palha com aplicações, a de tramas, a preta e branca, a prateada nova e super imponente, a de couro texturizada verde escuro, a azul claro, a azul escura, a vermelha, um pouco amassada, devia estar por baixo de todas, a de festa Victor Hugo, a Dumont bege, a Kipling lilás claro, a azul bordada, a indiana verde, a preta de crôco (chiquerrima), a modelo Birkin, do Lenny, clássica e bela, a marrom country (há muito tempo não usada) e bem atrás vieram as de festas de diversas cores e tamanhos, algumas dentro das embalagens. Vi a Chanel bege com corrente dourada, as pratas, as carteiras, da marca italiana Rodo, as douradas (ainda refletindo um certo brilho) e por último, as carteiras pretas, metalizadas, rosa a mostarda, bege com corrente de mármore, a mochila pequena e bonita de couro e as elegantes de monogramas LV e perdida no meio de tanta confusão a modelo laranja e azul, adquirida no Natal (antecipando a coleção do verão americano) e tantas outras chegando devagar.

Todas olhavam para mim, carregando cartazes que diziam:

“Queremos sair! ”

“O shopping é o nosso lar! “

“Precisamos respirar! ”

“Não fomos feitas para ficar no armário...! ”

A bolsa prateada foi a primeira que falou:

              “O outono já chegou e eu não sou desta estação, então, preciso urgente dar uma volta antes que a nova coleção chegue e eu não serei mais notada. Por favor, atenda nossos pedidos! ”

              Nisso entrando no quarto, a branca sanfonada (modelo do verão passado da Elisa Atheniense), um pouco bege (por não ter sido usada há algum tempo), dizendo:

              -“ Queridas companheiras, o momento não é de revolta, confusão ou histeria. Este é um momento em que devemos ser solidárias com quem sempre nos tratou com carinho, dedicação e enlevo. Eu mais do que vocês, sei o que é ficar dentro de um armário semanas a fio, vendo vocês saírem e eu lá quieta, mas nem por isso vou me rebelar contra aquela que tanto nos dignifica e embeleza, por favor queridas, sejamos sensatas e mesmos orgulhosas o momento é de recolhimento. Assim como nós, ela deve estar alucinada para sair desta cama e dar uma voltinha no Diamond, no Pátio, na Savassi, ir à um café, cinema. Sejamos amigas de quem sempre nos amou. Vamos ter um pouco de paciência, que logo logo estaremos na rua, assim como os óculos (novos, é claro) e as nossas companheiras de caminhada (sandálias e sapatos).

                 Por favor, não vamos deixa-la mais triste do que ela está. ”

             Eu já estava quase chorando quando vi cada uma abaixando o seu cartaz e enxugando os olhos com as alças. Foi um momento super emocionante, sensível e caloroso!

            Fiquei grata às minhas bolsas por sentirem minha falta e também da rua, feliz por tê-las aqui comigo nessa manhã fria e um pouco melancólica.

                 Não importa se são pequenas, grandes, simples ou luxuosas, elas têm “alma” e por isso as escolhi.

                 Abracei e beijei uma por uma e elas ficaram um pouco comigo, aqui na cama antes de voltarem para o closet.

              Com toda gratidão, de que sou capaz, eu agradeci a todas e continuei dizendo obrigada enquanto elas desciam conversando baixinho e olhando-me com carinho...

                 Recostei a cabeça no travesseiro e deixei o sol preguiçoso entrar no quarto para me dizer Bom Dia!

 

Sobre a colunista:

Maria Terezinha de Melo é escritora, jornalista, gastrônoma e teóloga, além de mãe de dois filhos humanos e um de quatro patas. Sempre exercita o dom da escrita nas horas vagas, principalmente no período de repouso das suas inúmeras cirurgias ortopédicas já realizadas. A partir de agora, ela irá compartilhar no Blog da LookBe seus textos leves, divertidos e deliciosos!

 

Texto escrito em 27/03/2008

Créditos da foto: http://www.comprascomestilo.com.br/t/bolsa/

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